Cientista defende lockdown de 21 dias para o Brasil não colapsar de vez

“Há grande chance de um colapso nacional. A população precisa acordar para a dimensão da nossa tragédia”, diz Miguel Nicolelis.

Efeitos ‘sincronizadores’, como o carnaval, fizeram com que a alta de contágio abalasse todas as regiões, num efeito dominó, diz especialista.

Há um ano, o Brasil confirmava o primeiro caso de covid-19, sem saber quão distante estava o fim da pandemia. Agora, mesmo com uma vacina já sendo aplicada na população, a situação ainda preocupa. O cientista brasileiro especialista em epidemiologia Miguel Nicolelis acredita que só um lockdown de 21 dias salvaria o país do colapso total.

Em conversa com o jornal O Globo, ele disse a população precisa “acordar para a dimensão da nossa tragédia” e que, se algo não for feito, será inevitável um colapso da saúde e funerário.

Questionado sobre como o país chegou a situação em que o colapso do sistema de saúde é registrado em vários estados, Nicolelis lembrou que, diferentemente da primeira onda, quando cada estado registrou problemas num determinado período, “surgiram efeitos sincronizadores”, citando as festas de fim de ano, as eleições e o Carnaval.

Agora, tudo está explodindo ao mesmo tempo. Isso significa que não não tem medicação, não tem como intubar, não vai dar para transferir de uma cidade para outra, não vai ter como transferir para lugar nenhum. A consequência do colapso de saúde é o colapso funerário. “Cientistas não olham só o presente, mas olham o futuro, enquanto o político está pensando no hoje, em como resistir à pressão do setor X para não fechar, a despeito das mortes”, argumenta.

Classificando de “danosa” o que chamou de “ausência de comando do governo federal”, o cientista disse ver como grande a chance de um colapso nacional.

“Não é que todo canto vá colapsar, mas boa parte das capitais pode colapsar ao mesmo tempo, nunca estivemos perto disso. Se eliminar o genocídio indígena e a escravidão, é a maior tragédia do Brasil. A ausência de comando do governo federal é danosa. Isso é uma guerra. Em outros países essa é a mensagem que foi dada, veja a China. É curioso ver que no mundo ocidental exista dificuldade de transmitir essa mensagem da gravidade. Em Israel, metade da população foi vacinada no meio de um lockdown, e Israel é um país que entende o que é uma guerra. Adotaram discurso de salvação nacional, a mobilização foi total”, diz.

“Eu tenho me perguntado muito: qual é o valor da vida no Brasil? Que valor os políticos dão para a vida do cidadão se não fecham as atividades num lugar com 100% de ocupação dos leitos? Ter que preservar a economia é não só uma falsidade econômica como demonstra completa falta de empatia com a vida das pessoas. O que mais me assusta é o pouco valor à vida. Os políticos são o primeiro componente, mas a sociedade também. Porque, quando alguém vai a uma festa clandestina de fim de ano, de carnaval, se aglomera numa balada ou à beira do campo de futebol, não compromete só sua saúde, mas a vida dos seus familiares, seus vizinhos e das pessoas que nem conhece. Nossa sociedade em algum momento perdeu a conexão com o quão irreparável é a vida.” Miguel Nicolelis

Já a respeito da vacinação, o médico disse que ninguém esperava que o Brasil fosse ter um desempenho tão baixo. A campanha de imunização começou em meados de janeiro, mas segue em passos tímidos. “Poderíamos estar vacinando 10 milhões, mais do que qualquer país. É como uma tragédia grega, mas é brasileira, que alguém vai contar um dia. Porque ela é épica, como a derrota dos troianos.”

Na avaliação dele, o país precisariam de um lockdown nacional, com o apoio de uma campanha de comunicação para ter colaboração da população porque, nessa altura, medidas de restrição de horário não têm efeito.

“A consequência da perda de meio milhão de pessoas não dá nem para imaginar. Sem gente não tem economia, ninguém produz, ninguém consome. É inconcebível”, critica.

Ele disse que ainda há tempo de reverter o quadro, “mas tem que mudar tudo”, afirmando que está propondo a criação de uma comissão de salvação nacional, sem participação do Ministério da Saúde, organizado por governadores, para resolver a questão logística.

“É uma guerra, quando vamos bater de frente com o inimigo de verdade? O Brasil é o maior laboratório a céu aberto para ver o que acontece com o vírus correndo solto. Em segundo lugar, um lockdown imediato, nacional, de 21 dias, com barreiras sanitárias nas estradas, aeroportos fechados. E depois ampliar a cobertura, usando múltiplas vacinas. Não dá para ficar discutindo, assina o contrato e vai em frente, deixa para depois, estamos falando da vida de 1.500 pessoas por dia, são 5 boeings caindo.

Vacinação, vacinação, vacinação, testagem e isolamento social. Não tem jeitinho numa guerra. Estamos diante de um prejuízo épico, incalculável, bíblico.”

Nicolelis diz que a situação preocupa de Norte a Sul, mas chama atenção principalmente para os cenários no Rio Grande do Sul, triângulo mineiro, Distrito Federal, Mato Grosso, São Paulo e Rio de Janeiro.

“No Estado do Rio, a letalidade é recorde no Brasil. O Nordeste ficou com o menor índice de óbitos por 100 mil nos primeiros 11 meses, mesmo assim o crescimento ainda é o menor, numa região com menos médicos do que a média nacional, menos infraestrutura. Esperava-se que o colapso ficasse restrito à região Norte. É surpreendente que o Sudeste tenha se saído tão mal”, pontuou.

Na última quinta-feira, 25/03/2021, o Brasil ultrapassou a marca de 250 mil mortos pela covid-19 e registrou 1.541 óbitos em 24 horas, o segundo maior número desde o início da pandemia.

Eu Roni Maciel, autora do blog Ronienfoque desejo muita serenidade, sabedoria e empatia por parte de nossos governantes que tomem uma medida urgente e também por parte da população em geral que precisam tomar consciência de que o momento é sério. Só se vive uma vez! A VIDA precisa ser preservada e muito bem cuidada! Se cuidem e cuidem dos seus! Fiquem com Deus! 

Sobre Miguel Nicolelis: Miguel Angelo Laporta Nicolelis é Médico e Cientista, considerado um dos 20 maiores cientistas em sua área no começo da década passada pela revista de divulgação para leigos Scientific American. Foi considerado pela Revista Época um dos 100 brasileiros mais influentes.

Fonte: Uol Notícias

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